A banda de synthpop, que teve seu auge no final dos anos 80 e começo dos anos 90, lança o primeiro álbum com a formação clássica em mais de vinte anos
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Em agosto de 2013, o Top Music Brasil publicou em primeira mão que a banda americana Information Society estava preparando um novo álbum e uma nova turnê no Brasil para 2014. O texto, inclusive, se tornou um dos mais lidos do site, frequentando durante vários meses o Top 5 dos posts mais acessados. Em fevereiro deste ano, o público pôde ter o primeiro gostinho do que seria o novo álbum, com o lançamento do primeiro single, "Land Of The Blind". Já a turnê brasileira do grupo passou por aqui em março (incluindo no setlist três músicas do novo trabalho) e na semana retrasada (com a turnê oficial do novo álbum), como o Top Music Brasil já tinha adiantado na seção "Radar TMB".
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O novo trabalho do InSoc (apelido do grupo bastante usado pelos fãs) foi lançado no dia 23 de setembro de 2014 nos EUA pela HAKATAK International/MVD. O lançamento no Brasil está programado para este mês de novembro através do selo brasileiro LAB344 -- que tem em seu cast artistas como Moby, Hot Chip, Queens Of The Stone Age, Interpol, A-ha, Duran Duran, Simply Red, Alanis Morissette e Yoko Ono.
"Hello World" contém onze faixas que passeiam por diferentes vertentes da música pop e eletrônica. "Já faz bastante tempo desde que fizemos músicas novas juntos que até parece uma coisa totalmente nova", afirma Paul Robb (o compositor da maioria das músicas da história da banda). "Ainda assim qualquer um que já tenha escutado qualquer disco nosso vai reconhecer nosso estilo imediatamente." E isso é verdade! O primeiro single, "Land Of The Blind", por exemplo, apresenta elementos que podem ser encontrados nos três álbuns clássicos do InSoc, lançados pela Warner na fase áurea do grupo, entre 1988 e 1992.
Uma curiosidade sobre "Land Of The Blind" é que a canção só se tornou o primeiro single do disco por interferência do empresário do grupo, Jason Fiber, que justamente reconheceu na faixa a sonoridade marcante que consagrou o grupo. A ideia inicial de Paul Robb é que "The Prize" (segunda faixa do álbum) fosse o primeiro single -- agora ela será o terceiro. O segundo single, "Get Back", foi lançado no dia 29 de outubro, incluindo remixes nacionais do premiado produtor Mister Jam e da dupla Junior Kain & Arvy (saiba mais e confira a música aqui).
Confira abaixo uma análise, faixa a faixa, de "_hello world", do Information Society (incluindo notas de 0 a 10):
1. Land Of The Blind (ouça aqui): Em sua fase áurea, nos anos 80 e 90, o Information Society flertou com diferentes estilos de música pop e eletrônica: technopop, new wave, freestyle, dance, techno... Sendo assim, acabou conquistando fãs de diferentes preferências e formações musicais. Com as mudanças no cenário musical, agradar a fãs tão distintos se torna uma tarefa ainda mais árdua. "Land Of The Blind" é a faixa do disco mais parecida com o estilo clássico do grupo. Portanto, foi, de fato, uma boa escolha para primeiro single, funcionando como um bom cartão de visita, justamente por ser a faixa com maior capacidade de agradar aos diferentes tipos de admiradores da banda. Mais do que isso, a música cumpriu sua missão de reapresentar o InSoc às gerações antigas e apresentar o que é o grupo às gerações mais novas. Todos os elementos marcantes do auge do grupo estão lá. Em alguns momentos, lembra a fase "Peace & Love, Inc.", ao mesmo tempo que apresenta batidas que lembram os clássicos "What's On Your Mind (Pure Energy)" e "Running" do primeiro álbum, além de uma melodia com apelo pop (mas consistente, vale lembrar) bastante presente no álbum "HACK", de 1990. O clima apocalíptico que os fãs do grupo conhecem bem também está lá! Mas o grande charme e diferencial da música é provavelmente a letra. "Land Of The Blind", como o próprio título já sugere, aborda e trabalha o conceito do velho ditado popular "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Mais do que isso, em alguns momentos a letra parece ter sido feita sob medida para a trilha sonora de um dos filmes da trilogia "Matrix". Aliás, não por acaso o também excelente lyric video da música (produzido por Falcotronik, o VJ da banda) apresenta um estilo "Matrix" em seu visual. Resumindo: é uma faixa que poderia estar presente em qualquer um dos três álbuns clássicos do grupo. NOTA: 10.
2. The Prize (ouça aqui): Se tivesse sido o primeiro single do álbum, como chegou a ser cogitado, não teria gerado o mesmo impacto e feedback positivo que causou "Land Of The Blind". Recomendo aos clubbers e aos admiradores das mais variadas vertentes da música eletrônica. Não recomendo aos fãs mais conservadores e com tendências mais pop/rock ou alternativas/experimentais do grupo. Em outras palavras, se você gosta do Information Society por ser parecido com o Pet Shop Boys, você tem chances de gostar da música; se você gosta do Information Society por ser parecido com o Depeche Mode, você tem grandes chances de não gostar. Se pensarmos em determinadas faixas do álbum "Peace And Love, Inc." (1992), veremos que "The Prize" não é tão diferente do estilo do grupo. E de fato não é! A essência do InSoc está ali... Principalmente na letra e na melodia. Eu, particularmente, gostei da faixa (ao ouvir o álbum), mas teria torcido o nariz se ela tivesse sido lançada como primeiro single. Gosto da introdução robótica e do clima de trilha sonora de videogame presente nos exatos quatro minutos da música (o que também são características clássicas do InSoc). Como o público do Brasil e o da Argentina teve a oportunidade de presenciar na semana retrasada, a banda está usando esta música para abrir os shows da turnê do novo álbum, o que se tornou uma excelente escolha para iniciar as apresentações de forma empolgante e em completo alto astral. NOTA: 9.
3. Where Were You (ouça aqui): O clima do disco desce um pouco na terceira faixa do disco, mas não a qualidade. "Where Were You" é uma das faixas que poderiam ser lançadas como single, além de render bons remixes. Vários elementos marcantes da história do Information Society também podem ser reconhecidos nessa faixa, incluindo os samples e a sonoridade industrial (bastante presente, inclusive, em "Don't Be Afraid", o álbum lançado pelo vocalista Kurt Harland em 1997, sem a participação dos outros membros). Merece destaque também esse interessante estilo de composição que se tornou marcante no trabalho da banda, com versos mais dark, sombrios e melancólicos, alternando com refrões mais pop, cativantes e alegres (se não na letra, pelo menos na melodia). O lyric video dessa música também ficou excelente, valorizando ainda mais a já ótima canção! Uma excelente faixa também para se ouvir num sábado ou domingo chuvoso. NOTA: 9,5.
4. Get Back (ouça aqui): É a faixa com maior potencial de sucesso do álbum. Não à toa foi lançada recentemente como o segundo single do disco. É também uma das faixas mais dançantes do trabalho, e uma das poucas com uma nítida influência de dance music. A música apresenta tudo que se espera de uma boa faixa dance-pop: a letra é inspirada, e a melodia é simples, cativante e empolgante, ao mesmo tempo que também é bonita e consistente. O teclado no fim da faixa também se mostrou ser uma ótima opção para encerrar a produção com chave de ouro. O público brasileiro teve a oportunidade de conhecer esta música em março, quando eles a incluíram no setlist dos shows apresentados por aqui. O single lançado no dia 29 de outubro, inclui remixes nacionais de Mister Jam e da dupla Junior Kain & Arvy. NOTA: 10.
5. Jonestown (ouça aqui): Velha conhecida dos fãs mais antigos e fervorosos do InSoc, pois já tinha sido gravada e apresentada ao vivo pela banda anteriormente. A canção, inclusive, pode ser encontrada no DVD comemorativo de 25 anos do grupo (It Is Useless To Resist Us: 25 Years Of Information Society), lançado em 2009, apresentando um show ao vivo do trio na cidade de Filadélfia (EUA). A nova versão da música (mais acelerada e menos dark) apresentada em "_hello world" é ainda melhor e também agradou em cheio aos fãs da banda. Ao mesmo tempo, diferentemente das faixas anteriores, não é uma faixa que se imaginaria para ser lançada como single. E vale comentar que "Jonestown" faz referência ao massacre de mais de 900 pessoas inocentes que eram membros de uma seita religiosa. NOTA: 8,5.
6. Dancing With Strangers (ouça aqui): O fato de o Information Society não estar mais em uma grande gravadora tirou do grupo a obrigação de produzir um álbum cheio de faixas pop e comerciais. Como declarado pelos próprios integrantes em algumas entrevistas, eles tiveram a liberdade de fazer o que tinham vontade sem pressão e influência externa. Essa liberdade para ousar e experimentar (sem compromissos com o mainstream) pode ser percebida em "Dancing With Strangers". É o tipo da faixa que vai agradar a uma parcela dos fãs da banda e vai desagradar a uma outra parcela. Como não posso deixar de avaliar sem usar também como critério meu gosto pessoal, afirmo: não é uma música que me irrite ou me incomode, mas também não me anima ou me emociona. E uma música que não me anima ou me emociona é dispensável. NOTA: 6.
7. Beautiful World (featuring Gerald Casale) (ouça aqui): Nesta faixa, o InSoc faz uma homenagem à banda que foi uma de suas principais influências. "Beautiful World" é uma regravação da Devo com participação do próprio vocalista e membro fundador do grupo americano, Gerald V Casale. O fato de os membros do Information Society serem fãs de Devo não quer dizer necessariamente que os fãs do Information Society sejam fãs de Devo. De qualquer forma, a faixa -- que apresenta uma letra até bem interessante -- se encaixou bem dentro do álbum e do novo show do grupo (a música foi a segunda do setlist apresentado pelo trio no Brasil na semana retrasada). Vale comentar também que esta promete ser a primeira de uma série de novas regravações produzidas pelo Information Society. A banda planeja para 2015 o lançamento de um álbum de covers. NOTA: 7,5.
8. Creatures Of Light & Darkness (ouça aqui): Um dos pontos altos do disco. A produção é o que mais impressiona nessa faixa. Desde a introdução que alterna suavidade com peso, ao mesmo tempo em que mantém um clima fixo de suspense, a música te toca. Não foi à toa que a banda escolheu esta faixa como trilha sonora para um vídeo teaser do álbum. Trilha sonora é uma das primeiras coisas que nos vem à cabeça quando ouvimos essa música (que, aliás, tem a cara do Information Society) -- desde trilha sonora de comerciais, passando pela de filmes de terror, chegando até mesmo a trilha sonora de nossas próprias vidas. NOTA: 9.
9. Above And Below (ouça aqui): O ponto alto do álbum se mantém nesta faixa que apresenta mais um synthpop de qualidade. Sim, um tipo de synthpop nunca apresentado antes pelo InSoc em sua carreira -- logo no começo você pensa mais em Pet Shop Boys, ou até mesmo Depeche Mode, do que em Information Society --, mas que acabou combinando com a atual fase do grupo. Produção impecável, letra inspirada, melodia cativante... Poderia se tornar até uma música de trabalho do grupo para se tocar nas várias rádios light e adultas existentes no Brasil. NOTA: 9.
10. Let It Burn (ouça aqui): Foi uma das três músicas novas apresentadas pela grupo na turnê realizada em cidades brasileiras em março deste ano. Nem por isso significa que seja uma das melhores. Pelo contrário: é a única música do disco que me dá vontade de pular de faixa. Não é que seja exatamente ruim, é simplesmente chata demais e sem graça. A letra é boba e a melodia te faz bocejar. O ideal seria fazer com esta faixa o que a própria letra manda: deixe queimar! Mas se você aguentar, tudo bem. Já estamos no final do disco mesmo. NOTA: 5.
11. Tomorrow The World (ouça aqui): Um álbum do Information Society que se preze não pode deixar de ter uma balada. Apesar de que se esta faixa não existisse -- e isso quase aconteceu --, a faixa 9 (Above & Below) cumpriria de certa forma esta função. O músico Paul Robb confessou que ao mesmo tempo em que ele e o vocalista Kurt Harland Larson queriam explorar mais esta canção, eles tiveram dúvidas sobre a sua inclusão no disco. "Foi uma situação em que dissemos: 'Vamos incluí-la se ela funcionar, e deixá-la de fora caso contrário'", declarou ele. "Obviamente achamos que ela funcionou!". Mas vale lembrar também que esta música se difere um pouco das clássicas baladas apresentadas pelo grupo em seus três álbuns lançados pela Warner Bros. Records, entre 1988 e 1992. Apesar de não ter o mesmo apelo comercial, apresenta emoção de sobra. Logo na primeira vez em que ouvi, a canção já me arrepiou (literalmente) no primeiro minuto. E quando uma música causa esse tipo de emoção e sensação em você, ela cumpre sua função maior, eliminando a necessidade de maiores avaliações técnicas ou mercadológicas. Como dizem por aí, contra fatos não há argumentos. Ou seja, a música é especial e ponto final. NOTA: 9,5.
NOTA FINAL DO ÁLBUM: 8,5.
Conclusão: Os trabalhos lançados após 1992 por membros da banda sob o nome de "Information Society" (sem serem, de fato, o grupo Information Society) não agradaram boa parte dos fãs, e nem alcançariam uma nota 8,5 em uma avaliação minha. Já o novo álbum do grupo, apesar de não ser nota 10 como a trilogia lançada pelo grupo entre 1988 e 1992, é bem melhor do que os discos lançados pelo InSoc quando o coletivo musical não estava em sua formação clássica. Mais do que isso: o novo álbum da banda é melhor do que grande parte dos trabalhos lançados pelos artistas mainstream da atualidade. Conclusão: com a formação clássica, "_hello world" mostra o velho e bom Information Society de volta à atividade.
O álbum "_hello world", do Information Society, pode ser comprado aqui.
Enquete: Qual é a melhor música de "_hello world", o novo álbum do Information Society? Vote aqui.
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Bryan Ferreira é jornalista, auditor musical, compositor, DJ e administrador do Top Music Brasil.
Um comentário:
Gostei muito do novo álbum, eles mostraram que podem render muitos trabalhos interessantes, fica agora saber se eles voltaram para ficar ou se é fogo de palha.
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